20/12/2011

Ainda pulsa

 Seguro na mão tentando com toda força não esmagar. Eu olho o sangue escorrendo, a dor subindo e descendo. A dor e o amor percorrem meu corpo. Eu o olho, quase esmago. Me controlo, me contenho. Me mato só para não matá-lo. Seguro-o na minha mão esquerda, vejo-me toda ensanguentada. Olho meu estado de desespero e desânimo. Sinto pena de mim. Sinto nojo do amor. Sinto vontade de esmagá-lo ali, mas preciso dele para sobreviver: do meu coração. Embora esteja pulsando fora de mim e com um ritmo "indiscutivelmente lento". A droga do coração pulsa de amor e preciso dele, mesmo pulsando eu de dor.

12/10/2011

A morte do amor

 Passaram-se os dias, a distância foi surgindo cada vez maior e o rosto do amor entristeceu. Criou asas a beleza que existia e todo o mundo que construíra não só desabou, mas sumiu - como se nunca tivesse sido real. O rosto do amor entristeceu, petrificou-se. A boca sem hálito, os olhos sem brilho, as mãos sem ter onde apalpar e o desejo fora afogado - nunca aprendera a nadar. Mas o amor sabia, sabia bater os braços e pernas ferozmente se fosse preciso. Porém nada adiantaria nadar pra morrer na beira do mar. O rosto do amor entristeceu, amargurou-se. O corpo do amor foi pra sete palmos abaixo do chão e engolido por bichos como todo ciclo da vida que chega ao fim. O corpo do amor morreu, o amor morreu. Eu mesma o matei.

24/09/2011

Caos em cacos

O mundo está cheio de cacos
Pisa-se e não corta
Corta-se e não sente
Sente-se e não grita
Grita-se e o som se abafa.
Propaga-se o som enfim,
do mundo em cacos de vidro.
Pequenos cacos de mundo dentro do vidro.

19/09/2011

Pedido

Os pés pedem menos calos e caminhos mais suaves.
As mãos por um rosto real, sem expressões fingidas.
Os ouvidos pedem verdade, palavras sentidas!
O corpo pede presença, aconchego, aperto...
O corpo pede amor de peito e braços abertos.
O corpo pede, pede por você gritando como se ouvistes...
O corpo pede, mas você não vem - e nunca mais virá.

06/09/2011

 Mágoa, inconstância, tristeza, decepção, raiva, dor, rancor, fraqueza, pesar, medo, disritmia, pudor, recato, obscuridade, sonho, oscilação, estremecimento, surpresa, incompreensão, dúvida, espanto, agonia, desespero, impulso, agitação, ímpeto, fraqueza, vulnerabilidade, solidão, saudade, saudade, saudade, saudade, saudade, saudade, saudade, saudade, saudade, saudade, saudade, saudade, saudade, saudade, saudade, saudade...

02/09/2011

Findável enjoo

 Começa como bolhas de sabão, vira uma espuma bem densa e vai subindo pela garganta, como uma ânsia de colocar tudo pra fora. Essa espécie de tsunami interno que vai recolhendo toda a água pra depois formar uma grande onda, é o que eu desejo expulsar de mim - e tem o mesmo gosto salgado do mar.
 Nesse plágio mal feito do oceano existem as chamadas conchinhas, que acolhem, me cuidam. O que queima é você, água-viva. Que arde, flameja, esse líquido picante queimando tudo por dentro. Você é que provoca vontade de despejar, você que transforma meu calmo marzinho numa reviravolta. Agita, sacode, estremece - um maremoto descrito.
 Quem sabe nessas subidas e decidas da vida, eu vomite de vez todo esse mal que me consome, essa angústia estomacal que me segue, me deixando sempre mais enjoada. Enjoada até de mim mesma, de você. Quem sabe no balançar dos ventos fortes eu estremeça as pernas, me agache e a dor misturada com revolta incômodo aflição faça enfiar o dedo forçando pôr pra fora tudo que atormenta. 
 Pode até ficar um pequeno mar. Mas primeiro vem meu conforto, minha tranquilidade, meu bem-estar. Nada de algo se agitando dentro do meu ventre, só por enquanto eu ainda suporto. Por enquanto me entorpeço de efervescente. Chegará finalmente, o dia em que tudo será calmaria. E eu seguirei gentilmente, com toda delicadeza possível. Então, tudo estará firme novamente. Não há firmeza maior do que não tê-lo mais aqui dentro.

23/08/2011

Extremidade

 Tá tudo bem? Se sente melhor?
 Olha, queria te dizer que se tranquilize. Esse medo bate mais forte quando a gente não tá em sã consciência. Daqui a pouco passa. Daqui a pouco essa distância que sentias não existe mais. Se acalma, é fácil porque lá no topo é onde você está, eu ainda continuo rastejando incansavelmente pra ir o mais longe que puder. Não, não por você. Não pra te encontrar. Mas pra mostrar. Mostrar a mim mesma que sou forte de cair e ir escalando montanha acima, só pra ficar do teu lado e olhar. Olhar toda a paisagem que de baixo não teria essa vista, jamais. Só pra te olhar, e ver que sim, eu poderia colocar lembranças, sentimentos, recordações pra um bom passado. Ótimo, aliás. Mas não tem pressa não, deixa eu sentir essa dor cortando pra tudo ficar mais forte. Vem ventania, chuvas torrenciais, mas eu me cravo nas paredes, subindo encharcada - de lágrimas -, com frio, com sede de carinho, os dentes batendo com essa insuportável, insuportável desesperança. Mas seguir é o que posso e devo. Tudo o que eu consigo - embora ainda esmorecidamente. Às vezes o vento trás aqui pra baixo - ou já estou no meio do caminho? - o seu cheiro, e dói. Inalo rasgando o peito, completa nostalgia. Vez em quando é assim, puro sofrimento. E me questiono, você se pergunta se eu estou bem, se ando me sentindo melhor?

29/07/2011

O presente interminável

 Que eu me lembre, eu sempre disse permanecer intacta independente de qualquer circunstância. Mas ai vem o amor e desfaz tudo que foi dito, pensado, tudo que foi prometido. E que engraçado, mas diante dele eu estou de mãos atadas... Agora eu me preocupo, eu choro, eu sofro, eu cedo, eu torço, eu mudo. Eu mudo o que sempre soube que jamais mudaria. Eu, logo eu que sempre quis essa independência e que quem me quisesse que fosse desse jeito, hoje eu busco tá me contorcendo só pra te enlaçar. Mas poxa, às vezes dói e cansa tá sempre costurando a fita a cada vez que rasga, que tora, que puxa. A cada vez que você decide se soltar. Cansa ter que dá o nó quando você já pensa em desfazer o laço.

21/06/2011

 Olho em volta, tudo aparece embaçado e a tontura me faz fechar os olhos. Um cansaço forte me leva sempre ao seus braços. Um abraço, um aconchego e tudo fica nítido... Que loucura, mas é esse seu calor se dividindo pelo meu corpo gelado e seu cheiro inconfundível, que me reergue.

30/05/2011

Eu tenho um vidrinho em casa. Eu o observo toda noite antes de dormir, assim que acordo, quando tenho insônia, quando sinto saudade. Você tá lá dentro, tão aconchegado, quentinho, e fica todo bobo me olhando. Eu imagino que também tenha um frasco comigo guardada... É assim que fazemos quando a distância se hospeda.

Nessa estrada de terra e asfalto a gente tira e põe o calçado quando é preciso,  porque sabemos, de alguma forma e sem tanto sentido, que andar descalço faz ferver desse chão quente o nosso amor prontinho saindo do forno. Você é a receita bem exata pra minha felicidade!

25/04/2011

ímpeto sentimental

 Ontem eu me parei arrependida. De me preocupar demais como vou reagir, se o futuro que está por vir é verdadeiro e sagaz, com que pessoas continuarei a falar, ver, beijar, sorrir e amar. O amor que me virá e virará as costas. Os dois são comuns, porém a partida é sempre dolorida. A chegada é sempre estimulante e a convivência mostrará se ela é bem-vinda. Pois hoje eu me parei pensando, porém não arrependida, que eu abri todas as portas, janelas, todo o espaço que se pode doar e receber carinho, e me vi corajosa. Há tempos que espero por algo que me acalme, mesmo borbulhando tudo por dentro. Espero por algo que me sussurre nos ouvidos e grite bem alto no coração. Há tempos eu espero por você que nunca chegou mas está prestes a vir.

08/02/2011

Meu meio-sorriso. Quase, mas ainda não chegou lá. Ainda não por inteiro.
Se me quer mesmo completa, enxergue bem dentro, através dessa roupa, dessa rosto, desse corpo.
E por favor, se há entendimento... Repouse em mim.
Preciso de muita calma e leveza.
Cansei de ser feliz assim, agora eu mudei de ideia.
Eu quero alguém, mesmo que eu mesma me complete por si só.
Mesmo que a ilusão do outro seja apenas pelo desfecho de num dia de chuva, há alguém pra trazer um calor que o cobertor já cansou de doar.

18/01/2011

sem desesperar

É bom dormir sem pensar em ninguém, acordar sem sonhar com ninguém. É bom sair por aí e não procurar em cada rosto o de alguém específico. É tranquilo viver assim, sem pressa, sem ânsia, sem espera. As coisas fluem tão mais fácil e no final tudo se torna bonito, porque no outro dia o telefone não toca, mas já se sabia que tudo seria dessa forma. E então, ninguém sofre.