26/07/2022

Migração

ai meu coração
que quer tanto ir por aí seguir o fluxo
e eu que prendo e sofro
porque ainda não tenho corpo nem mente compatível
com o tamanho dele 

onde quer que piso sinto saudade do que conheço
o problema não é a despedida
nem a rodoviária
nem a viagem
é a impermanência 

não sei mais como que meu coração não explode
acho que meu corpo e minha mente fizeram um acordo
estão se entendendo com ele
vão chegar no tamanho de eu finalmente migrar em voos
onde lá estarei em pássaros

20/07/2022

Nós

a ferida secando
como coça

e eu querendo tirar a casquinha

não vou criar outra fissura
quero cuidar de mim
não quero mais cuidar da gente

a gente foi
a ferida já não sangra

preciso chegar ao ponto de sentir só a cicatriz

13/07/2022

Um dia

a super lua nascendo
as nuvens de inverno partindo-a
e a ponta do seixas na mesma altura

a onda me alcançou pronunciando
sentir é contraditório

é tão vivo estar aqui presente
que me atormento e me alegro

eu amo esta cidade
o som do mar
o vento da maresia
e o quanto me sinto perto de mim

amar a natureza é me amar
amar minha natureza é amar
amar é de minha natureza

pingos de sal
molhado da areia
vento úmido
hoje estou pura água
lua cheia mexe comigo

eu queria gozar
para escorrer
mas nem me tocar eu consigo

haverá um dia
que sentir muito
e querer tanto
não será mais culpa

05/07/2022

Caldo

Hoje você mergulhou em mim junto com o sol e a cerveja. Acordei do cochilo pelo sonho ruim que tive contigo. Queria que essa cidade não tivesse tua marca. Nem teu cheiro. E que voltar da praia não lembrasse teu sexo. Ai que ressaca! Acho que tive sede tua, mas nem sequer te lambi.

Você atravessou quando eu estava cruzando o busto. Ou antes, quando entrei no uber. Não sei. Talvez nessas idas e vindas eu te deixei em alguma parte da viagem e no meio do choro, não te vi ficar na estrada. A caminho daqui, você sentou ao meu lado e nem percebi o momento exato.

A saudade dessa terra me distraiu de tua presença.

Não quero você do meu lado, mas não faço alarde para ir embora. Que a saudade venha, que me atravesse, que eu me jogue em uma ressaca, que enjoe e que vomite. Eu agora sou capaz de lidar com o vazio.

A parahyba tem cheiro de mar e eu sei que as águas são difíceis de navegar. Mas é nesse cheiro que eu me preencho. Vou reencontrá-lo, quando você deixar de me fazer visitas. Já não sigo os teus rastros.

Tudo o que preciso é chorar por ter encontrado paz nas saudades suas.