28/10/2020

O que é o amor?

    Nunca hei de saber sua essência, acho que até hoje devo ter sentido com tantos outros sentimentos mesquinhos, que o confundem, o limitam, o destroem. Ainda é por ele que ouso pular do penhasco, ainda em seu nome que busco a liberdade de ser inteira e compartilhar o que carregamos de bom por dentro. Sem esquecer de aprender no que é preciso evoluir.

    Se talvez eu o entendesse em seu âmago estaria hoje mais perto do que sou? Ou melhor, será que eu estaria mais próxima de entender o que quero ser? Acho que o amor é isso. A gente descobre a si mesma, porque se é tudo que falam, que pensam, que sentem, que querem, que desejam, que buscam, que escrevem, se é essa coisa que faz a vida valer a pena, é por ele que a gente entende o que estamos fazendo neste planeta. Ainda estou longe de compreender o amor, então.

    Não é por ele que estamos aqui em uma doença tão fisiológica quanto social, que atinge pessoas, que definha os sonhos, não é por ele que nos sentimos apartadas da natureza, não é por ele que jogamos um bomba atômica na nossa própria casa. A doença é resposta a falta de amor. Mas é por ele que deitamos na areia, na beira do mar, caçando estrelas cadentes e conjecturando o que há além de nós.

    Querer além de nós é amor. Talvez eu sinta tanto amor, mas embebido de egoísmo, carências, traumas, ciúmes, que me faz o confundir com a doença. Com a dependência. Eu não sei ainda decifrar o que é amor e o que não é, eu não sei quando ele chega. Eu não sei ainda lidar com sua temporalidade das estrelas cadentes, ainda que nesta queda livre eu seja uma passarinha.

    Não basta ter asas, é preciso se libertar das gaiolas mentais. São nelas que habitam o desamor. Só em voo livre se ama em autenticidade. E alteridade.

16/10/2020

Armário

    É descabido, mas ainda assim a gente se encaixa. É sufocante, mas ainda assim a gente respira. É destrutivo, mas ainda assim a gente sobrevive. É perda de prazer, mas ainda assim a gente tem conforto. É negar a essência, mas ainda assim a gente se encontra. É impalpável, mas ainda assim a gente se amarra. É preto e branco, mas ainda assim a gente vibra colorido. Até que essa vibração encontre espaço suficiente, se expanda ao nível que o armário seja uma ponte, um avião, um guia até alcançar a felicidade da auto aceitação. Qual o tamanho do seu armário? Qual a profundidade de sua extensão? Por quais fragmentos você ainda o habita? O quão deslocada, sem ar, morta, frígida, perdida, presa, sem cor, você ainda se sente? O que falta para ele se tornar um  completo condutor da sua profunda felicidade? É possível?