20/02/2021

Saudade

Saudade de você é como a tatuagem cicatrizando que coça. Eu sei que não faz bem corresponder o desejo, mas enquanto durasse eu não trocaria por nada.

17/02/2021

Todo carnaval tem seu fim

Encanto à segunda vista
Visita nos meus sonhos
Mas fui realista
Não cabia fantasias

Até chegar o carnaval
Com suor e purpurina
Me vesti de rival
E atuei no desejo

Depois vieram cinzas
Pandemia e distância
Inúmeras incertezas
Mas já era paixão

Não consegui desistir
Frustração e saudade
Meses a coexistir
Com música e poesia

Enfim veio o encontro
Descortinaram as fantasias
Roupas e lençois
Com suor e agonia

De novo meses passaram
Paixão e incertezas
Banhados de intensidade
Mas também muita tristeza

Ainda é pandemia
Me dispo da rival
Tento ignorar os detalhes
E novamente é carnaval

Todo ele tem seu fim
Assim para o amor
Assim para a folia
Há de ter para a dor

Vênus em câncer

O prazer de fumar o primeiro cigarro e o amargo da ressaca no outro dia.
A pedra no sapato que me causa uma dor gostosa.

15/02/2021

Fossa

Esse lugar sempre pinga, fede, escurece, faz encolher, possui bichos peçonhentos, não apresenta saída. São sombras e medos. O encontro com meus próprios dejetos. Mas não estou me odiando. Tá assustadoramente doloroso e estranhamente prazeroso. Pela primeira vez eu não estou me odiando. Porque eu tenho consciência que escolhi chegar até aqui. Eu caminhei até este lugar. Eu não caí. Eu consegui afastar os bichos mais rápido dessa vez, não chegaram a comer parte de mim. Foi exatamente o tempo que durou a posição fetal. Ainda fede, mas vez em quando a rinite ataca. Isso salva. Continua pingando, a quantidade não se alterou, mas o ritmo sim. A escuridão agora é uma escolha. Recorro quando necessário. Mas sei que a saída está longe. 

Desci ao nível de jogar paciência no computador.

14/02/2021

Ribeiro II

assim como tempo
estou em dilúvios

transpirando saudade
e derramada em paixão

tudo sobre você é agua
mas nem sempre doce

13/02/2021

Andarilha II

A verdade é que eu estou adoecida. Faz mais ou menos dois anos que entendi que estou perdida na vida. Que eu tinha trilhado muitos caminhos sem fazer escolhas genuínas. As ondas me levando e eu ora boiando ora se afogando. Foi quando decidi me encontrar. Desde então tem sido solitário, triste e frio. A escolha de ir em busca do que sou ou quero ser, exige nadar com braços, pernas e coração.

Tem horas que eu só queria entregar meu destino ao vento, fazer ele decidir a rota... Mas isso seria me perder mais um pouco. Ter que me reencontrar novamente. Já foi tão doloroso o percurso até aqui, não acho que tenho alguma condição de me exigir mais esforço. E eu continuo perdida. A diferença agora é que eu sei que estou tentando me descobrir.

Não lembro mais de quando fui intensamente feliz. Talvez inclusive minha ideia de felicidade esteja complemente atrelada ao fato de estar distante de mim. Preciso reinventar a felicidade! Ela me é urgente, mas alcançá-la leva tempo... Tudo é em torno do tempo. Eu estou adoecida porque me falta sentir profunda felicidade. E eu tive tantos motivos até aqui para isso, só que todos ressoam como uma pequena alegria.

Por todos esses meses buscando sentido em viver, me perguntando o porquê afinal estou aqui, no que seria útil eu estar aqui, se há sentido, se há razão... Por todos esses meses buscando e ainda perdida, tem horas que parece não ter fim, não ter respostas. Eu nadando na promessa interna que vou chegar em terra firme. E se não tiver terra firme?