24/06/2019

Queda livre III

    Agora refletindo melhor, penso que usei uma palavra errada para experiências absolutamente novas que vivi. Você não me curou. Ninguém cura mágoas provocadas por outra pessoa. É certo que eu não me sentia cuidada, amada, querida, é certo que você se entregou com todos seus limites e possibilidades, é certo que você deu o maior do amor que você tinha no tempo e espaço em que ficamos juntas. Mas você não me curou. Nunca esteve ao seu alcance, nem também no meu te curar. É tanto que nossas dores por outras pessoas permanecem.
      Mas eu usei uma palavra inadequada. Foi outro sentimento. Você me deu esperança. Ou confiança. Ou força. Ou fé. Você me despertou pra algo que eu andava com muita certeza de que nunca mais teria, você com seus silêncios e carregada de carinho me disse que poderia amar novamente. E viver um outro grande amor. Tem gente que nunca teve essa desesperadora oportunidade, como é que eu iria imaginar que aos 25 anos já teria vivido dois grandes amores na vida?
    De uns dias pra cá tenho pensado mais na sorte que tive em toda essa situação que me meti - sem nunca ter pedido. Eu sempre reclamo e lamento pela capacidade que eu tenho em amar, que agora ando agradecendo. O mundo tá coberto de medo e inseguranças, as pessoas andam evitando a entrega. Eu tenho mesmo é que me fortalecer por amar tanto assim. É certo que doi muito, porque o mundo (e eu) não está preparado para algo assim.
     Pois bem, meu bem. Você não me curou, mas me mostrou a expansão do meu coração. Do jeito mais lindo possível. Todo sofrimento que eu ainda carrego demanda de mim um esforço muito grande, em um tempo indefinido, pra que eu vá sarando. Nós duas juntas ia me impedir de seguir nessa missão que já estou faz tempo, mas que permaneço estancada no mesmo lugar. Felizmente ninguém cura ninguém, essa é uma carga muito grande.
     Mas você poderia ter só passado pela minha vida, sem deixar essas infinitas memórias bonitas que me fazem aquecer o peito. Essas memórias por muitas vezes é que me fazem pegar no sono. Você também me mostrou a expansão do seu coração e como foi bom conhecer o teu jeito de amar. Você sempre me surpreendeu ao acordar, com esse sorriso, com sua maneira de se entregar à mim, de olhos fechados. Como quem pula do penhasco à procura do amor.
     Não sei se você sabe, mas eu tenho uma metáfora para minha entrega. É um pulo do penhasco. Até antes de te conhecer nunca tinha vivido um amor assim (talvez seja porque as mulheres amam sem abrir os olhos), mas quando te encontrei, vi que alguém também pulava do penhasco sentindo o vento e toda a adrenalina que é oferecer a vida para o amor. Não somente suas asas são iguaizinhas as minhas, mas você é uma passara corajosa que nem eu.
     Pulamos em queda livre, meu amor. Já refletiu que sorte tivemos em voar juntas e com tamanha liberdade? A dor agora de ter que voltar a voar sozinhas não anula a beleza da viagem. E não estaremos separadas nunca. Eu continuo te avistando daqui. Lembra que essa Terra é passagem, nosso amor é sempre presente.

E nós continuaremos a compartilhar a vida. Por escolha nossa.