30/01/2014

Bicicleta

- Tenho ânsia de amar.

- Tens ânsia de amar? Por quê? Amar é uma dor

- Por quê?

- Porque é impactante. Como andar de bicicleta... Você se machuca, cai, se fere. Pode até conseguir aprender, mas sempre estará sujeito a dores. Em algum momento terá pedras, buracos, areia fofa, chuva. Além do próprio desequilíbrio mental. Se tu queres tanto amar é porque certamente nunca amou. Claro que andar de bicicleta é uma aventura, dá frio da barriga, o vento forte no rosto é incrível, a chegada até o destino é sempre insaciável e se quer mais e mais e mais. Nada pago o preço do risco, é verdade... Mas machuca demais quando a corrente se quebra, quando o ferimento é profundo ou quando finalmente, a bicicleta decide que você não sabe andar: ai ela te abandona. Amar, você pode até aprender, mas estará sempre assim: calejado de dor.

02/01/2014

Eu fui andando em direção ao mar. Cheguei até a areia. Entrei na água fria. Pulei uma onda, depois outra e outra e outra. Então eu nadei. Nadei desesperadamente. Eu só via a imensidão do mar e uma linha que parecia ser o fim. Eu queria ir até o fim. Ofegante, eu tentava. Eu dizia pra mim mesma: Não desista! E dias e noites eu nadei. Boiava pra aliviar o cansaço. Eu olhava o céu, o sol, a lua. Eu via barcos, navios. Eu tive socorro, porém o neguei. Eu negava que deveria desistir. Eu tentei, eu fugi. Eu quase morri, mas não desisti. Nadei contra corrente, contra o vento. Nadei contra mim mesma. E foi ai que fui sendo só corpo e esqueci da alma. Tentar nadar requer muito mais. Nadar tornou-se mecânico. Na minha busca eu esqueci do querer. Eu esqueci do amor. Eu esqueci de mim.