12/06/2020

Se

    E se por um dia o mundo parasse? Digo, se por um dia as pessoas humanas desaparecessem e com isso também a guerra, a poluição, a disputa por poder, a violência cotidiana, a fome, o câncer, a deterioração da vida, a pandemia desenfreada? Se por um dia somente eu estivesse viva? E caminhasse sem pressa, olhando as ruas vazias, contemplando a cidade sem caos - é possível?
    Se fosse possível ouvir o silêncio, brincar com as preguiças, descansar com as gatas, cantar com pássaros, se fosse possível contemplar sozinha a natureza? Olhar o céu e ver as fotografias das nuvens, os diversos tons de amanhecer e crepúsculo? Se chovesse, como seria dançar nua no meio de alguma estrada? Para onde eu iria?
    E se andando, sem destino nem pressa, sabendo que estaria sozinha, se eu esquecesse que há bairros, fronteiras, que há cidades e países, se eu seguisse andando sem perder o rumo, já que o rumo seria conhecer os lugares agora sem nomes, se andando assim por acaso eu te avistasse ao longe?
    Se o mundo também estivesse por um dia parado para ti, sem saber dessa sorte ou desse sonho, a gente se encontrasse em qualquer esquina da vida estancada? Como seria te tocar depois dessa longa espera? Qual seria teu cheiro com o ar puro? Como seria transar numa praia sem ser deserta porque deserta é a ausência de gente? E quantas conversas não teriam limite temporal só por sabermos que por um dia o mundo seria nós?
    E se esse dia fosse hoje?