10/01/2023

Sensitiva

De tudo que conheci em você, o teu cheiro foi a coisa mais inebriante. Eu tenho rinite, meu faro não é boa coisa. Mas tenho memória olfativa. Não sei se tem coisa melhor do que cheiro de mulher. E o teu cheiro foi o melhor que já gravei.

Lembro do dia como se agora fosse, você apenas - ainda - minha professora, casada, tão impossível que ardia o vislumbre do desejo de te ter. Até que senti teu cheiro e pensei que ali eu poderia me perder. E me perdi. Teriam outros tantos lugares teus em que nem imaginava que me perderia, mas foi no teu cheiro que eu me demorei.

Foi pelo teu cheiro que eu tantas vezes voltei.


É como se te sentindo, enchendo meu pulmão de ar e significando na memória que ali é tua presença, eu pudesse me esvaziar soltando o ar, porque de uma maneira simbólica, dependente e limitante, eu fui preenchida.


Agora eu prefiro sentir sua falta - que são minhas faltas -  do que sofrer em tua presença.


Mas uma calma estranha me acompanha, a certeza de “fazer uso de antialérgico e continuar no ambiente empoeirado”. Vi essa frase no Instagram. Não adianta fazer terapia e se negar a abandonar. E assim, se ver abandonada também.


Não quero equilibrar tensões, correr para a tranquilidade, puxar o fôlego para o amor. Não quero morar na tua nuca, tentar me caber na anestesia do teu cheiro.


Eu já me perdi em muitos lugares teus, consciente e inconscientemente. Já percorri o labirinto da nossa relação. Já o desvendei. Eu estou na saída, com medo de me encontrar.