sinto saudades das coisas que nunca vivi. no plural. saudade já é tão grande, mas a minha saudade são saudades. uma saudade ainda maior. porque sei que não vou viver. o tempo impera e não posso ser criança, adolescente ou jovem novamente. essas saudades parecem simples, mas me são fundamentais quando penso nesse tempo que já passou e não volta mais. porque eu poderia hoje ser uma adulta mais feliz. poderia ou seria?
eu sinto saudades dos beijos de boa noite que minha mãe não me deu quando criança. saudades das festas de escola que meu pai não foi. saudades de ser olhada como alguém que sofre. e que precisa de ajuda. saudades das viagens que meu pai nunca quis planejar. saudades de domingos de filmes, pipocas e aconchego com a minha mãe. eu sinto saudades de não precisar ser confiante, decidida e corajosa. saudades do meu pai e da minha mãe me perguntarem sobre os meus sonhos. saudades de me ensinarem que posso sonhar. e alto. eu sinto saudades de ser alguém relaxada que não procura tensões nas pessoas e ambientes. saudades de ter a paz como referência para a vida. sinto saudades de pensar em ser mãe simplesmente pelo desejo e não para provar o direito de uma criança ter segurança, cuidado, amor. saudades de simplesmente pensar em ser mãe para outra criança e não como uma resposta a falta que sinto em não ter tido uma infância como merecia.
saudades, muitas saudades do que não vivi. choro dores antigas e sinto faltas primordiais. e sigo, com a solidão, essa angústia rasgada em meu peito, que insiste em me mostrar. sangrar tanto tem me levado longe, encontrado outras saudades do que nunca vivi e descoberto que são possíveis. à todos os amores escolhidos, que não preenchem os buracos, mas erguem formatos de outras grandezas em meus solos férteis, que eu nem sabia que existiam. e ao amor, esse grande arquiteto da vida.
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