29/05/2024

o vazio: das possibilidades

nasci em uma sexta-feira pós-eclipse lunar, prematura e saudável. acho que a vida não é como tem que ser. a vida é. e não é como a gente quer. se a gente quiser a vida mais próxima do que se quer, tem que primeiro entender que ela é. fiz trinta anos numa segunda-feira de sol, tomando café da manhã numa padaria, agradecendo nas águas de yemanjá e mais tarde soprando as velas (depois da minha sobrinha rsrs). idealizei minha vida aos trinta, meu aniversário de trinta, minhas conquistas aos trinta, um tanto diferentes. essas décadas sentidas me levaram a desidealizar a vida de maneira arrebatadora - bruta e fascinantemente. mas caço simbolismos, porque sou poeta. a vida não é como eu quero, no entanto invento modos de abrilhantar o que existe. nasci no meu dia preferido da semana, completei três décadas no dia de exu. e ainda neste dia fiz um ano de namoro com o amor que eu sonhei e rezei para conhecer. entre o que a vida é e o que eu quero, existe um vazio de possibilidades. trinta anos é o convite para habitar e dançar neste vazio. então vamos bailar! e bailar em comunhão.

13/05/2024

dia dos amores escolhidos

sinto saudades das coisas que nunca vivi. no plural. saudade já é tão grande, mas a minha saudade são saudades. uma saudade ainda maior. porque sei que não vou viver. o tempo impera e não posso ser criança, adolescente ou jovem novamente. essas saudades parecem simples, mas me são fundamentais quando penso nesse tempo que já passou e não volta mais. porque eu poderia hoje ser uma adulta mais feliz. poderia ou seria?

eu sinto saudades dos beijos de boa noite que minha mãe não me deu quando criança. saudades das festas de escola que meu pai não foi. saudades de ser olhada como alguém que sofre. e que precisa de ajuda. saudades das viagens que meu pai nunca quis planejar. saudades de domingos de filmes, pipocas e aconchego com a minha mãe. eu sinto saudades de não precisar ser confiante, decidida e corajosa. saudades do meu pai e da minha mãe me perguntarem sobre os meus sonhos. saudades de me ensinarem que posso sonhar. e alto. eu sinto saudades de ser alguém relaxada que não procura tensões nas pessoas e ambientes. saudades de ter a paz como referência para a vida. sinto saudades de pensar em ser mãe simplesmente pelo desejo e não para provar o direito de uma criança ter segurança, cuidado, amor. saudades de simplesmente pensar em ser mãe para outra criança e não como uma resposta a falta que sinto em não ter tido uma infância como merecia.

saudades, muitas saudades do que não vivi. choro dores antigas e sinto faltas primordiais. e sigo, com a solidão, essa angústia rasgada em meu peito, que insiste em me mostrar. sangrar tanto tem me levado longe, encontrado outras saudades do que nunca vivi e descoberto que são possíveis. à todos os amores escolhidos, que não preenchem os buracos, mas erguem formatos de outras grandezas em meus solos férteis, que eu nem sabia que existiam. e ao amor, esse grande arquiteto da vida.

07/05/2024

análise

encontrei em mim um lugar seguro. 

apesar da dor, saio da cama. 

apesar da dor, leio um livro. 

apesar da dor, me exercito. 

apesar da dor, vou para a aula. 

apesar da dor, vejo minhas amigas.

apesar da dor, eu sorrio.

apesar não, além da dor.

encontrei em mim um lugar de amor que eu não sabia que existia.

01/05/2024

três décadas

não há mais espaço em mim para a violência. não quero mais fundir um lugar onde não me cabe. não vou mais ser emocionalmente equilibrada o tempo todo. eu quero poder estar segura na relação. eu quero poder saber que tenho espaço na relação. eu quero poder ser grossa e rude para me defender. agora eu já tenho consciência nessas três décadas que eu posso apenas ser com alguém. conto nos dedos de uma mão, é verdade. mas tenho. isso é tão precioso para quem um dia se achava abandonada no mundo. essa firmeza veio de eu não me abandonar mais. eu sei que voltar para a casa da minha mãe foi não me abandonar. mas agora não me abandonar é sair. tão duro ter que sair de novo por razões antigas. doi fundo na alma, mas me traz uma sensação tranquila de que eu já aprendi a viver por mim.