13/03/2021

Escrevedor

Escrever sempre foi cura. Por isso um planeta cheio de dores, que apenas verbalizadas não seriam tangíveis. As dores só são palpáveis para mim, quando escritas. Mas não escrevo para ser compreendida. Escrevo para compreender. Uma vez escrevi que sou uma mulher que só sei falar de amor ou de dor. Podendo ser, a depender, uma coisa só. Mal sabia eu, naquele momento, como sei agora, que aprendi o amor como dor. Eu nem tinha sido parida e já não fui amada, nem desejada, nem alimentada. Não sei ao certo, mas acredito que vim ao mundo mais cedo por sobrevivência. O fato é que eu estava desnutrida de alimento e amor. Talvez o útero não tenha sido um lugar seguro para mim... Foi ali onde tudo começou. Achar que dor é amor. Depois de longos anos eu descobri minha ferida primordial. Ou melhor, acessei. Escrever sempre foi romper com a falta. Com o desamparo. Com a carência. Com a infelicidade de ser indefesa perante a vida e ainda assim, ter que lutar por ela. Viver é isso, afinal, desde a concepção. Escrever sobre a dor, escrever com dor, escrever para a dor, escrever pela dor, escrever dor. Até que ela se cure. É para isso que eu escrevo, para me alimentar das palavras e saciar a fome de ser amada. Os búzios apontaram que eu tenho um lado escrevedor. Nunca fui escritora. Nem poeta. Eu sou uma mulher em busca de finalmente cortar o cordão umbilical que conecta o amor à dor.

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